Estávamos no primeiro semestre de medicina e isso nos
permitia estudar outras coisas. Eu fazia francês e Andrea alemão, no mesmo horário.
Certo dia, combinamos que depois da aula estudaríamos para a prova de
embriologia na casa de outro amigo da turma, o Leo. Levamos vinho.
Estudar
embriologia era um exercício puramente filosófico-imaginativo (daí a ideia do
vinho), pois a matéria poderia ser chamada de “Embriologia segundo Jaime Cofre
Cofre” (eis o nome do professor, que era chileno; só não me recordo se entre os
cofres havia hífen). Era impossível estudar por livros, pareceria outra
matéria.
Chegamos
e o Leo estava ouvindo Novos Baianos. Achamos que Moraes, Pepeu e Baby nos
ajudariam nas reflexões, e deixamos que continuassem. Limpamos a mesa 1x1m, a
única que Leo tinha em sua quitinete, colocamos amendoim japonês numa cumbuca,
abrimos o vinho e também a Xerox do caderno da Elysa, fac-símile das falas do
professor de “emvriolorría”.
Lá
pelas tantas tentávamos entender a formação do sinciciotrofoblasto e a migração
das cristas neurais, quando para explicar melhor Leo lançou mão da cumbuca com
os amendoins japoneses como exemplo. Ficamos tentando enxergar alguma estrutura
embrionária ali, mas nem com vinho, e penso que nem com substâncias mais alucinógenas
isso seria possível.
Não me
lembro em que momento desistimos da embriologia, mas deve ter sido muito
rápido. Ficamos bêbados ao som de rock brasileiro progressivo dos anos 70, (percebemos
isso quando conversávamos imitando as falas do professor Jaime em portunhol). Fomos
comprar mais vinho, que virou cerveja, que virou vodka, que virou amnésia e consequentemente um
4,0, um 4,5 e um 5,0 na prova.
Bons
tempos. Foi o que ficou da embriologia.
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