quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Pequeno conselho aos que querem mudar o mundo

                Antes de começar, embora eu não goste de categorizar as pessoas, acho pertinente separar a humanidade em idealistas e não-idealistas. Isso é apenas uma constatação, não algo contra o qual consigamos lutar. O desejo profundo e sincero de melhorar a si mesmo e fazer deste um mundo melhor a todos virá (ou não) às pessoas no devido momento. Apenas faço a distinção pois as posturas e preocupações são bem dispares, e talvez aos não-idealistas este texto soe uma perda de tempo.

                Com uma frequência cada vez maior circulo por meios em que se debate bastante o tema “vamos mudar o mundo”. Ubíqua, entretanto, a incoerência entre discurso e prática. Não por hipocrisia, mas porque é difícil mesmo. Acaba que muitas vezes pessoas boas perdem seus potenciais, desperdiçados em mudanças estéticas, logo, vazias, propagando opiniões fortes, porém mal elaboradas (muitas vezes apenas nas redes sociais), e se tornam cada vez mais desestimuladas porque a maré parece invencível.

                E então, o que fazer? Queremos mudar o mundo mas nos sentimos perdidos no meio do fogo cruzado. Daí temos insights do tipo: “Ok! Não quero simplesmente deixar a barba crescer, andar descalço, parar de ler a Veja e ficar dizendo bobagem no facebook. Quero acordar amanhã e fazer a coisa acontecer.” Meu pequeno conselho: A partir de amanhã, organize-se e dedique cada vez mais tempo as pessoas que você conhece e realmente admira.

                Digo isso com tranquilidade porque os idealistas de verdade dificilmente admirarão as pessoas erradas. Se você se considera idealista e admira alguém que tem por projeto de vida enriquecer financeiramente...bem, sinto lhe informar, mas estas são ideias antagônicas. Não vou discorrer sobre isso, espero que ninguém imagine que não considero uma remuneração adequada para suprir as necessidades de qualquer cidadão algo indispensável (e as “necessidades de qualquer cidadão” já vira outro tema) ...enfim, partamos do pressuposto que isso esteja claro e avancemos.

                 Você pode admirar grandes ativistas e personalidades, mas dificilmente conseguirá conviver com elas. No entanto, aposto que há algumas pessoas ao seu redor com as quais você tem ideias muito alinhadas, e que consegue enxergar uma pró-atividade em torno dos ideais compartilhados, pessoas que te empolgam ao falar dos sonhos, que, claro, também erram algumas vezes, mas que você sabe que teu coração bate diferente quando está na presença delas. É a essas pessoas que você tem de dedicar mais tempo. E se você se considera um idealista e não conhece ninguém com esse perfil, sugiro repensar seriamente em como anda levando a vida.

                O que acontece é que ficamos pensando muito nessas coisas, mas no fim das contas acabamos dedicando o todo o tempo que sobra a festas, cerveja com os colegas, namoro, família (as vezes), ou simplesmente a não fazer nada. Esse não fazer nada é algo incrível, se pudéssemos, depois dos deveres viraríamos um leão marinho e ficaríamos torrando no sol em cima de uma pedra. Ou talvez preferiríamos até mesmo vivar a pedra, de tão preguiçosos que somos.

                Mas espero que ninguém imagine que mudar as coisas seja coisa fácil. Exige esforço. Também não estou dizendo que não devemos nos relacionar com quem nos é/foi/está sendo importante. Mas idealista que é idealista pressente algo maior, que tudo pode ser muito melhor, mas que as pessoas no momento histórico em que vivemos tem dificuldades em manifestar isso. Se acha que não há tempo para tanta coisa, reveja suas prioridades, organize-se e obtenha esse tempo!

                Vá trocar ideias com quem você admira, observe, aprenda, e ensine também! A construção de um mundo melhor começa na convivência dos bons, que compreendem inclusive que melhorar o mundo passa por melhorar a si mesmo. Sinceramente, é o que já estou tentando fazer há algum tempo e se me permitir, vira meu conselho.
                Afinal de contas, “porque chamaríamos algo de IDEAL, se não fosse na tentativa de vivê-lo a todo momento?”

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Sobre as pessoas que passam por nossa vida

               Há quem passe por nossa vida por alguns poucos minutos, fala meia dúzia de palavras, as vezes não fala nada, e muda tudo para sempre. As vezes não muda nada, só arranca um sorriso; da maioria dessas pessoas a gente nunca mais se lembra.

                Algumas pessoas passam várias vezes, sempre dando ois e tchaus, e entre um e outro nada de muito relevante aparentemente acontece, mas por algum motivo que a gente geralmente não investiga, persistem esses reencontros apenas com ois e tchaus.

                Outras pessoas passam feito um furacão, numa intensidade fora de controle, arrancam admiração, inveja, paixão e revolta, e logo tudo passa, porque as grandes relações só se sustentam com convivência.

                Pessoas com quem a gente cria grandes relações são aquelas que passam e deixam uma sensação tão boa, que se tornam especiais a ponto de querermos que passem todos os dias, para compartilhar mais momentos, tantos assim que pareça que não é nem um e nem outro que passa, porque o caminho se torna o mesmo.

                Embora haja pessoas que passam pela nossa vida todos os dias, algumas não passam em carne e osso, mas nos pensamentos. Há pessoas que ficam muito tempo passando só no pensamento. Entre elas estão as que a gente conversa com regularidade, e outras não.

                As pessoas que passam no pensamento e a gente conversa com regularidade, são aquelas que deixaram boas sementes, e a gente faz questão de cultivar, mesmo não conseguindo ver todo dia. Como somos pessoas, temos a sorte de poder regar a alma, que é a terra onde se plantam as coisas próprias dos seres humanos. Amor e amizade são boas “técnicas” para seu cultivo, e que como qualquer outra, tem sua eficácia atrelada a constância. (Bastante ênfase nas aspas, porque o dia em que o amor for categorizado enquanto técnica teremos de rever quase tudo que imaginamos saber nesta vida).

                Oras, mas porque não falaríamos com alguém que passa tanto no pensamento? Descontados os mortos, com quem até podemos falar, desde que não nos frustremos com a falta de respostas convencionais, são pessoas que passaram, seja por muito ou pouco tempo, e plantaram alguma coisa que não nos fez bem, mas que a gente ainda não aprendeu o antídoto para se desfazer deste mal.

                Ninguém que passa de forma consciente quereria deixar algo de ruim. As pessoas que deixam sementes ruins também estão em sofrimento, ou simplesmente meio atrapalhadas das ideias, e precisam de ajuda. O antídoto é conhecido de todo mundo, e ajuda a ambos, mas quase ninguém sabe usar de verdade. Chama-se perdão.

                Dizer que perdoou e ficar vendo a pessoa passar no pensamento sem falar é o mesmo que não ter perdoado. Para todos os que passam pela nossa vida, devemos lealdade (aos nossos ideais) e cortesia sempre. E sempre também, uma porção na manga de perdão. Senão a caminhada vai ficando pesada, arrastando um bocado de coisa crescendo que não soubemos dar conta. Daí não notamos e não damos valor a mais nada e ninguém que continua, e sempre continuará a passar.

“Quem não sabe perdoar, só sabe coisa pequena”. (Valter Hugo Mãe)

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.