domingo, 7 de julho de 2013

Sobre a derrota de Anderson Silva

Já deixou de ser interessante (porque previsível, desproporcional e injusta) a forma como a maioria de nós reage diante das derrotas. Principalmente quando não somos os protagonistas, mas nos sentimos representados.
Anderson Silva se tornou a pessoa mais eficiente e vitoriosa numa modalidade esportiva, que ganhou evidência estratosférica nos últimos tempos. Moda? Não vejo problema nisso. Hoje é MMA, facebook, sertanejo universitário. Ontem foi Walk-Talk, fórmula 1 e lambada.
Nosso lutador ontem utilizou a mesma tática das outras lutas, (em alguma medida, certamente exagerou), e perdeu. Espanha e Barcelona recentemente também. Eike Batista, idem. Seus movimentos e momentos sistólicos e diastólicos tem gêneses diversas, então vamos ficar apenas com o evento desta madrugada.
Pra simplificar (sempre mais fácil), vejo muitas pessoas atribuindo à derrota um único motivo: a falta de humildade de Anderson. Mas poucos conseguem mensurar o que é ser o melhor que existe numa determinada função, e através dela, “representar” uma nação e, diga-se de passagem, o Brasil.
O melhor sentimento que existe é você ser querido, amado, respeitado, admirado, e quando ações suas te projetam de forma a que outras pessoas te deem esse feedback, seu instinto é reproduzi-las sempre, criando para si próprio um personagem. Vimos inúmeras vezes Anderson Silva baixando a guarda, se esquivando de seus adversários e posteriormente ganhando as lutas. Mas quando provoca, quando manda beijo e muitas vezes quando baixa a guarda, ele não está se dirigindo (somente) a seu adversário. Ele está se dirigindo a nós, que esperamos dele o que sempre conseguimos.
                
Anderson Silva sucumbiu a uma característica intrínseca do ser humano: perdeu o foco na ânsia de não perder a imagem que detinha até então. Não serei eu a banalizar com justificativas uni causais; há o mérito do adversário, (o maior contribuinte para o resultado), não temos como saber as reais condições psicológicas do Anderson, entre outros fatores que nunca saberemos. Mas argumentar falta de humildade, de uma pessoa que até então foi motivo de reflexões contrárias a isso? Bom, cada um tem direito a pensar e se expressar da forma que quiser. Sociedade com poder de expressão horizontalizado é uma conquista nossa.
Somos seres extremamente carentes, que tentamos a todo custo chamar atenção colocando imagens ou frases bacanas para serem curtidas nas redes sociais. Achamos que o que pensamos sobre qualquer coisa ou o que estamos fazendo, fizemos ou faremos é interessante e digno de ser compartilhado com o universo. Exageramos (como fez Anderson) e fracassamos várias vezes por dia, mas não estamos na televisão (porque não conseguimos). Nesta madrugada assistimos ao que queríamos, e como algo saiu fora do previsto (a vida é mais dependente de “momentos de sorte” do que gostamos de acreditar), malhamos o protagonista, (que até o dia anterior era “o cara”) ao invés de dar-lhe estímulo para que se recupere e continue.

Mas é isso aí, Anderson Silva continuará sendo um gigante, com, sem, ou apesar de nós.

sábado, 6 de julho de 2013

Estudos de embriologia

Estávamos no primeiro semestre de medicina e isso nos permitia estudar outras coisas. Eu fazia francês e Andrea alemão, no mesmo horário. Certo dia, combinamos que depois da aula estudaríamos para a prova de embriologia na casa de outro amigo da turma, o Leo. Levamos vinho.
                
Estudar embriologia era um exercício puramente filosófico-imaginativo (daí a ideia do vinho), pois a matéria poderia ser chamada de “Embriologia segundo Jaime Cofre Cofre” (eis o nome do professor, que era chileno; só não me recordo se entre os cofres havia hífen). Era impossível estudar por livros, pareceria outra matéria.
               
Chegamos e o Leo estava ouvindo Novos Baianos. Achamos que Moraes, Pepeu e Baby nos ajudariam nas reflexões, e deixamos que continuassem. Limpamos a mesa 1x1m, a única que Leo tinha em sua quitinete, colocamos amendoim japonês numa cumbuca, abrimos o vinho e também a Xerox do caderno da Elysa, fac-símile das falas do professor de “emvriolorría”.
                
Lá pelas tantas tentávamos entender a formação do sinciciotrofoblasto e a migração das cristas neurais, quando para explicar melhor Leo lançou mão da cumbuca com os amendoins japoneses como exemplo. Ficamos tentando enxergar alguma estrutura embrionária ali, mas nem com vinho, e penso que nem com substâncias mais alucinógenas isso seria possível.
                
Não me lembro em que momento desistimos da embriologia, mas deve ter sido muito rápido. Ficamos bêbados ao som de rock brasileiro progressivo dos anos 70, (percebemos isso quando conversávamos imitando as falas do professor Jaime em portunhol). Fomos comprar mais vinho, que virou cerveja, que virou vodka, que virou amnésia e consequentemente um 4,0, um 4,5 e um 5,0 na prova.

                
Bons tempos. Foi o que ficou da embriologia.

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.