terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Até breve

(Pensei em várias formas de finalizar as atividades do blog neste ano. Encontrei aqui nos arquivos paulistanos umas velharias até interessantes. Recortei alguns trechos de textos meus, escritos há um tempão. Em meio a muitas porcarias tinham umas coisas surpreendentemente dignas de novas leituras, nem eu me reconhecia naquelas linhas. Também pensei em abrir espaço pela primeira vez a um amigo, postando um poema entitulado "2009", mas que poderia muito bem se chamar "2010", ou até "1965", já que entra ano e sai ano e são sempre os mesmos planos.
Mas hoje, assistindo a mais um filme do velho Woody - pretendo esgotar sua filmografia um dia - me apareceram uns dizeres bem bacanas, que resolvi compartilhar. Fui parando cena por cena para anotar, espero que gostem)


"Durante toda a nossa vida, enfrentamos decisões penosas, escolhas morais. Algumas delas tem grande peso. A maioria não tem tanto valor assim. Mas definimos a nós mesmos pelas escolhas que fazemos. Na verdade somos feitos da soma total das nossas escolhas. Tudo se dá de maneira tâo imprevisível, tão injusta, que a felicidade humana não parece ter sido incluída no projeto da Criação. Somos nós, com nossa capacidade de amar, que atribuímos um sentido a um Universo indiferente. Assim mesmo, a maioria dos seres humanos parece ter a habilidade de continuar lutando, e até encontrar prazer nas coisas simples, como sua família, seu trabalho e na esperança que as futuras gerações alcancem uma compreensão maior."


Boas festas

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Napolitana nunca mais

(A produtividade anda alta, penso ser a primeira vez que consigo escrever dois textos em dois dias. O que são as férias né?! Estimulado pela catástrofe futebolistica deste fim de semana e, voltando ao velho estilo, teço uma breve análise sobre este esporte e seus desdobramentos)

Realmente este é o país do futebol. São pouco entre nós aqueles que não possuem uma fotografia, ainda no carrinho de bebê, ostentando uma enorme camisa do time do coração do pai ou de algum tio. Crescemos em meio a invencionices futebolísticas. Qualquer lugar é passível de abrigar uma pelada, e muitos objetos podem servir de bola. Meias emboladas, tampinha de garrafa, latinha de refrigerante amassada... é só ter dois pares de sandálias havaianas por perto pra servir de traves que o negócio funciona.
As variações nos tipos de jogos também eram quase ilimitadas, era rebatida, linha, artilheiro, gol a gol, três dentro três fora...independentemente do número de jogadores, sempre havia uma modalidade que abrigasse o grupo todo. No colégio, a aula de educação física era sempre a mais aguardada. Tenho certa pena dos educadores físicos: quatro anos estudando, pra chegar na hora de aplicar os conhecimentos, ele praticamente resumir-se a ajudar a escolher os times e jogar a bola no meio da turma e deixar que o resto eles resolvem. É a única coisa que dá pra fazer, não existe colaboração para qualquer outra atividade.
Pois bem, nesse país assim crescemos, e salvo raras exceções, à parte a intimidade com a redonda, nos tornamos torcedores com variados graus de fanatismo. Algo que realmente influenciará em nossas vidas para sempre.

Dito isso, informo-lhes que o Palmeiras hoje, 6 de dezembro de 2009, depois de permanecer 17 rodadas como líder do brasileirão, não só não conquistou o título como também perdeu a vaga na libertadores. Elejo este o fiasco esportivo do século. Informação adicional: o Flamengo foi campeão.
Não pretendo discorrer sobre a catástrofe palestrina, nem procurar justificá-la. Quero confessar aqui que não achei de todo ruim ter o Flamengo vencido o torneio. Como palmeirense que sou, ruim de verdade seria ter de ver mais uma vez o São Paulo vencedor, ou ainda o Corinthians, nem que fosse a primeira.
Ainda preferia que o Inter ganhasse, mas acabei ficando feliz pelo seguinte: A verdade irrefutável número dois em se tratando de nascer brasileiro é que, caso você não nasça em São Paulo, não torça para nenhum time de lá, ou não faça parte dos trinta por cento dos cariocas que, somados torcem para o Vasco, Fluminense ou Botafogo, você indubitavelmente terá como primeiro ou segundo time o Flamengo.
Esse negócio de segundo time era uma coisa que eu não tinha familiaridade antes de morar fora de São Paulo. Mas é comum nas cidades interioranas, quando o time local não tem projeção nacional (ou seja, seus jogos não passam na televisão as quartas-feiras e aos domingos) eleger o Flamengo como segundo time do coração. Isso não é uma ofensa, nem uma provocação, apenas uma constatação feita depois de vir em Florianópolis, conviver com pessoas de muitos outros estados e conhecer muita gente que torce para o Avaí/Flamengo, Vila Nova/Flamengo, Atlético Goianiense/Flamengo, Vitória/Flamengo, e até somente Flamengo, mesmo não sendo carioca. Inclusive tenho um grande amigo que nasceu em Brasilia, morou um tempo em Natal, outro tanto em Belo Horizonte, agora está estudando cá em Floripa, e que me confessou que simpatiza com Palmeiras/Flamengo. Esse claramente não sabe escalar meio time nem de um nem de outro, mas pra ver onde a coisa chega.

Assim sendo, encaro o título do Flamengo como um presente de fim de ano para a grande maioria dos habitantes deste país, cuja verdade numero três a seu respeito é ser um povo forte, porém sofredor. Que esquece que tem compromissos sérios e chatos para tratar no dia seguinte, esquece que o trabalho não vai ser fácil, e que não pagará as contas de casa, e o remédio do filho, e as prestações da geladeira nova. E fica de frente à televisão (ou radinho no ouvido) por um tempo curto porém mágico, que narra os acontecimentos vindos de um lugar que ele nunca porá os pés, mas onde ele certamente sonhou pelo menos uma vez na vida em fazer um gol com a camisa 10, pelo time do coração.
Hoje é dia de festa para a maior torcida do mundo, dia de torrar um pouco mais daquela grana que já não ia pagar o remédio ou a geladeira e de tirar sarro da cara do amigo cujo time foi rebaixado, ou que não foi pra libertadores.

E até o fim do primeiro tempo tava tudo indo muito bem. O Palmeiras apesar de não estar ganhando, ainda tinha a vaga para a libertadores assegurada e, pela combinação dos jogos, o Inter seria o campeão. Resolvo ir a uma padaria aqui perto, a Napolitana, comprar algumas coisas para o café da tarde. Eis que, quando estava no caixa, passando a compra, um molequinho vira pra mim (que estava trajando o uniforme do Palmeiras) e diz: ''O Palmeiras tá fora do G4”. Eu sabia que não, estava acompanhando os jogos, e depois de ter discutido com o menino e terminar com “quer saber mais do que eu, que sou palmeirense??” saí revoltado com tamanha petulância e voltei pra casa para acompanhar, conformado, apenas a conquista do quarto lugar no campeonato.
Chegando aqui, suco e lanche preparados, ligo de novo a televisão e vejo, concomitantemente, o Cruzeiro vencendo e o Palmeiras acabando de sofrer o primeiro gol, ou seja, saindo do G4 e deixando escapar a vaga para a libertadores.
Verdade sobre o povo brasileiro número quatro: por mais que negue, é um povo supersticioso, que acorda com o pé direito, veste a roupa que acha que dá sorte, senta sempre no mesmo lugar no sofá porque senão o time perde, e que não volta a padarias em que existem moleques impertinentes e preditores do fracasso alheio. Napolitana, nunca mais!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Carta ao amigo imaginário

(Na atual fase de experiências com os diferentes estilos, posto agora uma carta. É quase um balanço de fim de ano, papo mais ou menos sério...bem mais ou menos...)

Pra quem conhece, parece mais uma mixiriquice do careca. Nosso ilustre amigo inventou esse semestre um amigo imaginário. O sujeito tinha algum parentesco longe e obscuro com ele, e por motivos ainda mais nebulosos foi morar uns tempos no apartamento do Mixirica. O engraçado é que quando aparecíamos por lá, o camarada nunca estava, mas a cama que o careca emprestou-lhe estava sempre desarrumada.
Enfim meu caro amigo, não me importo que você tenha essa condição de existência meio duvidosa. Estou eu aqui, finalmente de férias, sentado no sofá com uma cervejinha do lado, observando o sol se pôr por entre os predinhos da Trindade, João Bosco tocando Papel Machê, o laptop no colo e a vontade de escrever.
Esse semestre foi puxado. Fiz muita coisa, não fiz um tanto de outras, mas o saldo parece ser positivo. Arrisquei(-me) um bocado, aprendi outro tanto, e nesse meio de caminho ri e chorei pra valer, fiz novos e grandes amigos, decepcionei alguns, mas de qualquer forma, segui mais do que nunca aquilo que achava certo.
Mano, se eu te contar você não acredita, fui até atropelado dia desses. Voltando da Festa de Gala da Atlética a pé com o Digão, fui correr atrás de uns balões mas, por estar ligeiramente bêbado, as pernas não acompanharam os movimentos e a rapidez planejados e eu fui tropeçando até a rua, no que veio um carro e bateu em mim. Rolei no chão e tudo, mas não me machuquei muito.
Por me sentir meio culpado ainda fui pedir desculpas ao motorista: ''foi mal cara, to meio bêbado''. No que ele, polidamente respondeu: “Tem problema não, eu também to!”. Esse mundo maluco...
Falando em bebedeira, isso não sei se fiz de mais ou de menos, você me conhece quanto a esse respeito né?! Mas posso te afirmar que fui parando aos poucos com aquela mania de façanhas andarilhas no final das baladas. Hoje já não volto nem do Mercadinho Chico a pé se tiver outras opções. E também parei de bodear nas festas, isso tava enchendo o saco da galera, eu tava até perdendo moral.
Sem dúvidas foi o período em que eu mais estudei. Claro que com o tempo a gente vai perdendo o pique, mas no começo eu tava um nerd absurdo, não faltava eu aula nenhuma e estudava praticamente todo dia em casa. Aprendi muito, não só sobre medicina, mas também a ser perseverante. Lembra que eu queria muito fazer pesquisa, iniciação científica e tal? Pois então, eu fiquei o semestre inteiro enchendo saco dos professores, sugerindo projetos, vendo as possibilidades, até que quase no final, quando eu já tinha desistido, de repente me apareceram dois, e por um deles eu vou até receber bolsa de iniciação científica ano que vem. Isso foi pra mim até agora uma das maiores provas de que, se o cara quer mesmo uma coisa e corre atrás dela com vontade mesmo, na maioria das vezes ele consegue, pode apostar.
Por causa disso acabei me afastando da galera da minha sala. Minha frequência nas mesinhas de poker foi ridícula, até nas festas de turma apareci bem menos. Mas não pude deixar de ir na de encerramento, que foi bem engraçada por sinal, fiquei até pelado na piscina. Preciso pedir desculpa para as meninas, elas não devem ter ficado muito a vontade com a situação. Pretendo voltar a sair com o pessoal mais vezes semestre que vem.
Velho, cê sabe que eu sempre fui meio vassourão né?! Acredita que de uns tempos pra cá eu até dei uma tranquilizada? Tava gostando de estar com uma guria só. É tão gostoso perceber que uma pessoa séria, bacana, inteligente e bonita pensa em você e quer estar com você. A completude dos momentos em que se está junto é muito maior do que naqueles em que você está com alguém que acabou de conhecer numa balada. Eu nunca tinha valorizado muito isso. Mas parece tão óbvio né? Só eu que fui perceber essas coisas apenas aos vinte e dois anos. Aprendi bastante com ela, vou guardar isso com carinho.
Mas de qualquer forma me sinto um pouco mais leve. Cê que me conhece bem sabe que quando eu to bem, feliz da vida, adoro ver todo mundo bem também, contente e vivendo coisas legais. Mas quando o tempo tá fechado, e parece que tudo tá dando errado, daí fico puto até com as conquistas das pessoas próximas. Não sei se é normal de todo ser humano, sei que não é uma simples característica, é um defeito, que eu detectei em mim e fiz questão de arrumar. Tá louco! Que coisa besta!
Descobri que se as coisas não estão lá como eu gostaria, ver o outro feliz por uma conquista (caso merecida, que fique claro) e conseguir sentir-se bem com isso é um santo remédio. ''Poucos são os homens com bastante caráter a ponto de sentir-se feliz com a conquista do próximo sem sentir um pingo de inveja''. Isso não veio de mim, mas é pra mim. Pra mim não, pra todo mundo, pensa nisso você também. Seja um parasita da felicidade das pessoas que você gosta. Não sei se parasita é a palavra certa, porque dessa relação os dois saem beneficiados, acho que é comensal né? De qualquer jeito, não tenho vergonha de admitir isso pra você, todos tem lá seus defeitos, mas é vivendo, refletindo e tentando mudar que se consegue melhorar.
Pô, é realmente coisa pra caramba. Viver aqui nesse lugar, com todas as oportunidades que tenho, e tanta gente bacana pra compartilhar os momentos, as ideias, ensinar e aprender a todo momento...ainda bem que esse curso tá só chegando na metade.
Venha me visitar qualquer dia, não muito em breve, que agora to indo matar a saudades do pessoal de São Paulo. Mas venha sim, você não vai se arrepender. Manda lembranças pro Mauro e pra Audrey.

Grande abraço
Pedro

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.