terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Amigo secreto

Neste Natal minha família organizou pela primeira vez um amigo secreto, este ritual secular criado para entreter os participantes das festividades de final de ano nas empresas, famílias e turmas em geral, e que a mim durante muito tempo foi motivo de grande aflição.
Por longo período era minha mãe quem comprava os presentes dos meus amigos secretos. Invariavelmente Dona Neusa achava que o presente escolhido por meus amigos era caro demais; se custasse 30 reais, ela comprava algo de 25, se fosse 5 reais ela comprava um de 3. E foi assim que anos a fio eu tive que lidar com situações constrangedoras, resumidas na lista abaixo, entre os presentes pedidos e os presentes dados:

Bola de capotão – bola de plástico
Camiseta da Bad Boy – Camiseta da C&A
Jogo de Cartas Super Trunfo – Baralho comum (ou um genérico que se chamava Super Coluna)
Walkman – (e esse é imbatível) jogo de dardos

Claro que hoje em dia a gente leva de letra, o pessoal até nem pede mais um presente específico, fica a critério do presenteador, mas imagine pra uma criança de seus oito ou nove anos chegar com um jogo de tiro ao alvo pra um coleguinha da catequese que pediu um Walkman. Era no mínimo contra tudo o que a gente tinha aprendido durante o ano todo nas aulas da Tia Izildinha (a catequista) se é que a gente compreende alguma coisa quando faz catequese. A cena da entrega desse presente em particular foi bem pesada, a cara de desolamento e incompreensão do meu amigo secreto era digna de foto de livro.
Não eram raras as vezes em que, na hora do sorteio, alguém pegava um papelzinho com o nome de alguém que não gostava muito e num movimento ágil e pouco convincente amassava de volta, falava “não vale, tirei eu mesmo” e arremessava junto aos demais papelotes para que recomeçasse o sorteio. Sempre imaginei que era isso que estava acontecendo, pois comigo isso nunca ocorreu.
Amigo oculto, amigo da onça, amigo itinerante, não importa muito a variação, é talvez o único momento da festa em que todos estão realmente unidos e com a atenção voltada para a mesma coisa. O presente em si torna-se secundário, além do que, como disse uma prima minha, o valor do presente não está no preço e sim no quanto você se doou em achar algo que a pessoa realmente ia gostar. O mais bacana é ver as pessoas ali, em frente a um monte de gente, muitas delas envergonhadas, mas falando algo bacana sobre e para a pessoa que irá presentear.
Lá na casa da minha tia foi bem legal. Começamos com bastante antecedência a entrega dos presentes; mesmo assim, à meia-noite não tinham sido todos presenteados, só fomos nos dar conta do horário devido aos fogos. Apenas gritamos juntos “Feliz natal” e continuamos o amigo secreto. Palavras emocionadas, situações engraçadas, numa grande síntese do que deveria ser toda reunião de pessoas que se querem bem.
Certamente repetiremos a dose.

Aproveito para desejar a todos um feliz ano novo, independente do que ele nos traga (mas sempre esperado o melhor), que consigamos vivê-lo na medida do possível, junto daqueles que queremos e nos querem bem.

3 comentários:

Maia disse...

Ri alto!

Anônimo disse...

A mãe vai te matar! hahahahaha

Caio Matta disse...

"Walkman - Jogo de dardos" uhahuauha

Dona Neusa vai ficar bruxa quando ler isso...

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.