terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Felicidade - Produto adulterado

Se você perguntar a alguém “O que é felicidade?” a resposta será, quase sempre, alguma variação de “são pequenos momentos, pequeno gestos, feita de pequenos instantes”, e que a felicidade “anda por ai escondida, e que você tem de saber encontrá-la”, que temos que aprender a viver as “pequenas felicidades”.
É impressionante como conseguiram nos vender essa ideia: de que a felicidade é um “plus”, uma recompensa, um “algo a mais”. Ou pior ainda, que a felicidade será alcançada depois que conseguirmos uma série de coisas: um bom emprego, um bom salário, uma boa casa, uma família sem problemas... Aí sim, quando tivermos tudo isso, seremos felizes. É claro que se a felicidade for isso, temos que começar a enxergá-la em pequenos momentos. Mas não parece muito justo, nem faz tanto sentido.
A maioria das pessoas acorda dia após dia para ir trabalhar em algo que, na melhor das hipóteses, considera suportável. Alguém que dedica a maior parte do seu tempo a fazer algo que não gosta, pelo qual não é valorizado, e que só faz porque é o maior salário que consegue ganhar (afinal precisamos ao menos pagar as contas), não vai ter nem energia física, nem mental para dedicar sequer àqueles momentos, ou “instantes” que conceitua como “felicidade”.

Pra inicio de conversa, recebemos uma educação que pouco ou nada nos incentiva a acharmos nossas verdadeiras vocações. Muitos chegam à beira do vestibular (afinal, em nossa sociedade entende-se que todos tem de “formar-se” em alguma coisa) procurando suas vocações em revistas ou fazendo testes vocacionais.
Ninguém é totalmente burro ou não é bom em nada, mas acontece que todos recebem o mesmo tipo de educação, num mesmo ritmo, e em momento algum são valorizadas, nem sequer procuradas, as habilidades especificas de cada um. Daí, se alguns conseguem acompanhar as aulas e tirar boas notas, entende-se que todos deveriam conseguir, e castiga-se aqueles que não se dão bem com o sistema.
Todos saem da fôrma (formatura) sabendo mais ou menos qual o lugar certo de marcar o “X”, alguns sabem falar outras línguas, outros se dão muito bem com cálculos, a maioria sai sabendo um monte de baboseiras que nunca serviu nem servirá para nada (além de passar de ano), mas poucos sabem alguma coisa sobre si mesmos, canalizam suas energias para as coisas erradas, não sabem se relacionar, não sabem ser tolerantes, tem o conceito de justiça completamente deturpado e jamais terão a certeza de estarem fazendo a coisa certa.
Inteligência não é sinônimo exclusivo de intelectualidade. Abrange o emocional, o físico, a intuitivo e como você articula tudo isso. Felicidade é uma conquista inteligente e que todos, sabendo ou não onde botar o “X”, são capazes de alcançar.
A verdadeira felicidade jamais deveria ser uma exceção, coisa pequena, fugaz.

O caminho não é fácil, já está tudo muito enraizado e a solução depende de muitos fatores, internos e externos. Mas temos que partir de algum lugar.
Parece-me interessante tentarmos ao menos servir de mapa para que as gerações futuras tenham uma compreensão maior, e comprem o produto original.

Um comentário:

Chami disse...

Muito legal, Pedrão!
Lembrei-me de um outro texto que li, de outro grande amigo meu, apontando a enorme distância existente entre instrução e informação.
Creio a felicidade no primeiro campo, tão pessoal e levando em conta as peculiaridades que nos torna únicos. Desenvolvendo nossas inclinações naturais, exploramos nosso universo e descobrimos o que, de fato, nos faz progredir como seres humanos. Criamos o novo, sendo na música, pinturas, no campo da jurisprudência, cuidando ou seja lá o que for, e o novo, quando belo, como disse o crítico, personagem de Ratatouille, deve ser cuidado e defendido com unhas e dentes.
Como disse meu amigo em seu texto, "vivemos em uma das gerações mais informadas e menos instruídas de todos os tempos". Isso é muito preocupante e nos torna fáceis presas para um sistema escroto que se retroalimenta às custas dela mesmo, e a de cada um.

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.