Esta é uma crônica que tem tudo pra dar errado, fadada a ser
uma grande porcaria. Já começou mal, com um título pretensiosamente grandioso,
o que já furta a gênese do propósito das crônicas. E quando ganha peso (pô,
Pedrão, 50 crônicas?! Agora vai, hein!) não presta, porque ela é
conceitualmente leve, mesmo que trate de assunto sério.
Oras,
pra que mesmo serve uma crônica? Por que, raios, deveríamos ler uma crônica? Ou
pra que alguém se submete a escrever um troço desses? Porque será que ela fica relegada
à última página dos cadernos dos periódicos, ou perdida em meio a uma notícia
sobre a excursão das baleias francas ao litoral brasileiro e uma propaganda das
Casas Bahia? Uma crônica, apesar de geralmente se referir a um fato concreto,
notícia por natureza, nunca terá seu conteúdo revelado na manchete do jornal.
Mas
elas devem ser respeitadas, e faço desta crônica em particular, uma
metalinguagem propagandista, como um samba de Vinícius, ou um poema de Drummond
(no propósito, não na qualidade, evidentemente); defendo o gênero com unhas e
dentes, e que sejam eles o bom-humor e a reta palavra.
O cerne
é narrar um fato cotidiano, e embutir nele algum senso crítico, uma reflexão,
ou uma sacada humorística qualquer, que nos aproxime uns aos outros e nos
lembre de que apesar de estarmos vivendo cada um seu contexto, sua história,
somos pessoas muito similares. Que esteja a zona do Euro em crise, a Antártida
derretendo, outra Galáxia sendo descoberta, ou o Neymar jogando bem (ou mal), há
muita coisa acontecendo conosco e em nossa volta, que só se tornam pequenas
porque nos induzem a pensar assim.
As
redes sociais deram um jeito de que conseguíssemos uma auto-elevação ao “status”
de notícia, mas isso já é outra história, não digo nem que é bom nem ruim. Tudo
(ou quase tudo) tem seus dois lados.
Contudo, isso não é só obra da não-ficção, noticias, reportagens e afins. A ficção
também tem lá sua culpa. Os heróis que as histórias nos contam são sempre
produto de um desastre de laboratório, ingestão de um produto químico,
irradiação, cruzamento de humano com alienígena ou coisa que o valha. E com seus super-poderes salvam o planeta, ou pelo menos os Estados Unidos. Qual o
estímulo que temos para valorizar nossas histórias, e contá-las? Passamos nós
mesmos por nossos desafios diários, trapalhadas na festa da firma, términos de
namoros, pisamos na merda indo para um batizado, presenciamos a morte de
alguém, choramos, rimos, relevamos, seguimos vivendo, sentindo múltiplas
emoções desencontradas e, apesar disso, somos levados a acreditar que isso tudo
é muito banal.
A
crônica existe para nos divertir, ao passo que, por vezes, nos induz a uma ou
outra reflexão de maneira leve, não enfiada goela abaixo. Não vai falar nunca
sobre um assunto qualquer que não nos parece dizer respeito, sobre as quais não
temos poder de ação. Vai sempre nos puxar de canto, seja lá onde nossa cabeça
estiver enfiada, lá nas nuvens, debaixo da terra, num passado remoto, ou, como
na maioria das vezes, em assuntos que não dependem da gente, e dizer: “Olha que
coisa curiosa que aconteceu comigo ontem! Com você também já ocorreu? Será que
todo mundo é assim? Ah! A gente não presta mesmo...”
E que
não falte assunto para as próximas 50!
2 comentários:
Muito bom seu texto rapaz. está de parabéns por chegar em 50 escrevendo tão bem, quero eu chegar a 100 e escrever assim!!
abraço
Coisa sérias, menos serias, cômicas....
Continue escrevendo! Gostaria que chegasse ao número: infinito!
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