sábado, 6 de julho de 2013

Estudos de embriologia

Estávamos no primeiro semestre de medicina e isso nos permitia estudar outras coisas. Eu fazia francês e Andrea alemão, no mesmo horário. Certo dia, combinamos que depois da aula estudaríamos para a prova de embriologia na casa de outro amigo da turma, o Leo. Levamos vinho.
                
Estudar embriologia era um exercício puramente filosófico-imaginativo (daí a ideia do vinho), pois a matéria poderia ser chamada de “Embriologia segundo Jaime Cofre Cofre” (eis o nome do professor, que era chileno; só não me recordo se entre os cofres havia hífen). Era impossível estudar por livros, pareceria outra matéria.
               
Chegamos e o Leo estava ouvindo Novos Baianos. Achamos que Moraes, Pepeu e Baby nos ajudariam nas reflexões, e deixamos que continuassem. Limpamos a mesa 1x1m, a única que Leo tinha em sua quitinete, colocamos amendoim japonês numa cumbuca, abrimos o vinho e também a Xerox do caderno da Elysa, fac-símile das falas do professor de “emvriolorría”.
                
Lá pelas tantas tentávamos entender a formação do sinciciotrofoblasto e a migração das cristas neurais, quando para explicar melhor Leo lançou mão da cumbuca com os amendoins japoneses como exemplo. Ficamos tentando enxergar alguma estrutura embrionária ali, mas nem com vinho, e penso que nem com substâncias mais alucinógenas isso seria possível.
                
Não me lembro em que momento desistimos da embriologia, mas deve ter sido muito rápido. Ficamos bêbados ao som de rock brasileiro progressivo dos anos 70, (percebemos isso quando conversávamos imitando as falas do professor Jaime em portunhol). Fomos comprar mais vinho, que virou cerveja, que virou vodka, que virou amnésia e consequentemente um 4,0, um 4,5 e um 5,0 na prova.

                
Bons tempos. Foi o que ficou da embriologia.

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.