Desconheço
vivalma que tenha concordado ou sequer entendido a escolha de Dunga como novo técnico
da seleção brasileira de futebol. Soa sadomasoquista a atitude da CBF, haja
vista o currículo de nosso ex-volante tetracampeão como técnico, diga-se apenas
de passagem, da própria seleção, em passado recente. Mas não pude
deixar de lembrar de certa prova de biologia que fiz em épocas de futebol-arte.
Sempre tive muita fé no universo celular. Nunca imaginei que as organelas ficassem boiando no citoplasma, embora não conseguisse decorar qual a contribuição de cada uma delas para o todo. Parece-me razoável admitir que, interpretações a parte, a coisa funciona.
Pois bem, eis que me defronto em
dado momento com uma questão cujo enunciado descrevia o funcionamento de
determinada estrutura celular. Como supracitado, decorar a função de cada
elemento não era meu forte, de forma que a única coisa que eu conseguia afirmar
ali é que aquela função não era exercida pelo Complexo de Golgi. Logo,
sobravam-me quatro outras alternativas: 25% de chance de acerto.
Neste momento entra, embora
aparentemente insignificante, um dos maiores mistérios com que me deparei até
hoje. Movido a um sentimento (não dá pra chamar de raciocínio) incompreensível,
ilógico, e por que não, irracional, eu assinalei: letra d) COMPLEXO DE GOLGI. E,
é claro, errei a questão.
As coisas parecem fazer mais
sentido agora, depois de Dunga. Parece-me que nós, seres humanos, temos uma
dificuldade muito grande de lidar com incertezas. Mais fácil, por incrível que
pareça, lidar com a certeza, mesmo que seja a certeza de um erro, ou de uma
derrota. Quando este tipo de coisa acontece, nossa parte mais esotérica já foi
suplantada, sabemos que não vai acontecer nenhum milagre. Nenhum cientista dias
antes da prova teria descoberto que o Complexo de Golgi é uma espécie de coringa da célula, da mesma
forma que o Dunga é o Dunga. Ponto.
Apesar de ter compreendido um
pouco melhor a gênese comportamental em ambos os casos, resta uma dúvida: Será
este um padrão de funcionamento inerente aos seres humanos, ou uma
característica em comum entre mim e a CBF? Se Freud explica, (e aqui vamos, de
forma lúdica e alienada, achar que o futebol se resume a isso) chegou a hora da CBF ir
ao divã.
Um comentário:
Não sei se vou poder comentar alquma coisa sobre esse seu novo texto. Sempre muito bem escrito. Complexo de Golgi? Fui procurar no meu dicionário. Um pouco complicado para quem é leigo!! Bom ando espalhando por aí o seu blog e com muito prazer. Ainda não consegui me convencer que conheci ou conheço um ser tão jovem e tão sábio, um presente ou uma luz no meu caminho!
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