Durante um tempão eu não aceitei que a formação das nuvens
fosse meramente uma etapa do ciclo da água. Tudo bem que a água estivesse
envolvida, mas isso nunca explicou a identidade das nuvens. Era como ver uma
pessoa e ficar satisfeito com o corpo físico. Isso não é a pessoa. As nuvens,
pra mim, não eram água.
Na minha
cabeça, as nuvens carregavam sonhos. Os nossos sonhos, ou talvez todos os
sonhos dos seres viventes. E pra mim isso tinha uma forte relação com o fato de
eu perceber muito menos nuvens aos domingos. As nuvens se formavam porque a
gente deixava os sonhos escaparem, sem ter muito tempo pra sonhar. Todo mundo
ficava fazendo um monte de outras coisas nos dias de semana, e aí não sonhava.
Os sonhos subiam e ficavam armazenados nas nuvens. No domingo não, como ninguém
trabalhava, ficava sonhando e não tinha nuvem.
Por
isso que as nuvens inclusive tinham um número infinito de formatos. Cada um
sonha uma coisa. E mesmo que ache que sonha parecido, não é. E lógico que elas
mudam de tamanho e forma o tempo todo. Não é assim mesmo com os sonhos? Daí
quando chovia nunca era um grande problema, porque os sonhos voltavam pras
cabeças das pessoas. Não que as gotas de chuva carregassem os sonhos, mas de
alguma maneira onde a chuva caia, caia também o sonho. Só não conseguia
entender porque às vezes as nuvens se formavam num lugar, e iam chover em
outro. Vai ver que era importante outras pessoas continuarem alguns dos nossos
sonhos.
Raios e
trovões não faziam parte da minha teoria. E não quero intrometer raciocínios de
agora com a imaginação daquele tempo. Tempo em que olhar pras nuvens era
imaginar sonhos, mesmo que se parecessem com dragões ou tartarugas; era sonho
de alguém, e tinha de ser respeitado. Por fim, confesso que só me incomodava um
pouco que as nuvens do Maurício de Souza fossem algodão doce na horizontal.
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