segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Napolitana nunca mais

(A produtividade anda alta, penso ser a primeira vez que consigo escrever dois textos em dois dias. O que são as férias né?! Estimulado pela catástrofe futebolistica deste fim de semana e, voltando ao velho estilo, teço uma breve análise sobre este esporte e seus desdobramentos)

Realmente este é o país do futebol. São pouco entre nós aqueles que não possuem uma fotografia, ainda no carrinho de bebê, ostentando uma enorme camisa do time do coração do pai ou de algum tio. Crescemos em meio a invencionices futebolísticas. Qualquer lugar é passível de abrigar uma pelada, e muitos objetos podem servir de bola. Meias emboladas, tampinha de garrafa, latinha de refrigerante amassada... é só ter dois pares de sandálias havaianas por perto pra servir de traves que o negócio funciona.
As variações nos tipos de jogos também eram quase ilimitadas, era rebatida, linha, artilheiro, gol a gol, três dentro três fora...independentemente do número de jogadores, sempre havia uma modalidade que abrigasse o grupo todo. No colégio, a aula de educação física era sempre a mais aguardada. Tenho certa pena dos educadores físicos: quatro anos estudando, pra chegar na hora de aplicar os conhecimentos, ele praticamente resumir-se a ajudar a escolher os times e jogar a bola no meio da turma e deixar que o resto eles resolvem. É a única coisa que dá pra fazer, não existe colaboração para qualquer outra atividade.
Pois bem, nesse país assim crescemos, e salvo raras exceções, à parte a intimidade com a redonda, nos tornamos torcedores com variados graus de fanatismo. Algo que realmente influenciará em nossas vidas para sempre.

Dito isso, informo-lhes que o Palmeiras hoje, 6 de dezembro de 2009, depois de permanecer 17 rodadas como líder do brasileirão, não só não conquistou o título como também perdeu a vaga na libertadores. Elejo este o fiasco esportivo do século. Informação adicional: o Flamengo foi campeão.
Não pretendo discorrer sobre a catástrofe palestrina, nem procurar justificá-la. Quero confessar aqui que não achei de todo ruim ter o Flamengo vencido o torneio. Como palmeirense que sou, ruim de verdade seria ter de ver mais uma vez o São Paulo vencedor, ou ainda o Corinthians, nem que fosse a primeira.
Ainda preferia que o Inter ganhasse, mas acabei ficando feliz pelo seguinte: A verdade irrefutável número dois em se tratando de nascer brasileiro é que, caso você não nasça em São Paulo, não torça para nenhum time de lá, ou não faça parte dos trinta por cento dos cariocas que, somados torcem para o Vasco, Fluminense ou Botafogo, você indubitavelmente terá como primeiro ou segundo time o Flamengo.
Esse negócio de segundo time era uma coisa que eu não tinha familiaridade antes de morar fora de São Paulo. Mas é comum nas cidades interioranas, quando o time local não tem projeção nacional (ou seja, seus jogos não passam na televisão as quartas-feiras e aos domingos) eleger o Flamengo como segundo time do coração. Isso não é uma ofensa, nem uma provocação, apenas uma constatação feita depois de vir em Florianópolis, conviver com pessoas de muitos outros estados e conhecer muita gente que torce para o Avaí/Flamengo, Vila Nova/Flamengo, Atlético Goianiense/Flamengo, Vitória/Flamengo, e até somente Flamengo, mesmo não sendo carioca. Inclusive tenho um grande amigo que nasceu em Brasilia, morou um tempo em Natal, outro tanto em Belo Horizonte, agora está estudando cá em Floripa, e que me confessou que simpatiza com Palmeiras/Flamengo. Esse claramente não sabe escalar meio time nem de um nem de outro, mas pra ver onde a coisa chega.

Assim sendo, encaro o título do Flamengo como um presente de fim de ano para a grande maioria dos habitantes deste país, cuja verdade numero três a seu respeito é ser um povo forte, porém sofredor. Que esquece que tem compromissos sérios e chatos para tratar no dia seguinte, esquece que o trabalho não vai ser fácil, e que não pagará as contas de casa, e o remédio do filho, e as prestações da geladeira nova. E fica de frente à televisão (ou radinho no ouvido) por um tempo curto porém mágico, que narra os acontecimentos vindos de um lugar que ele nunca porá os pés, mas onde ele certamente sonhou pelo menos uma vez na vida em fazer um gol com a camisa 10, pelo time do coração.
Hoje é dia de festa para a maior torcida do mundo, dia de torrar um pouco mais daquela grana que já não ia pagar o remédio ou a geladeira e de tirar sarro da cara do amigo cujo time foi rebaixado, ou que não foi pra libertadores.

E até o fim do primeiro tempo tava tudo indo muito bem. O Palmeiras apesar de não estar ganhando, ainda tinha a vaga para a libertadores assegurada e, pela combinação dos jogos, o Inter seria o campeão. Resolvo ir a uma padaria aqui perto, a Napolitana, comprar algumas coisas para o café da tarde. Eis que, quando estava no caixa, passando a compra, um molequinho vira pra mim (que estava trajando o uniforme do Palmeiras) e diz: ''O Palmeiras tá fora do G4”. Eu sabia que não, estava acompanhando os jogos, e depois de ter discutido com o menino e terminar com “quer saber mais do que eu, que sou palmeirense??” saí revoltado com tamanha petulância e voltei pra casa para acompanhar, conformado, apenas a conquista do quarto lugar no campeonato.
Chegando aqui, suco e lanche preparados, ligo de novo a televisão e vejo, concomitantemente, o Cruzeiro vencendo e o Palmeiras acabando de sofrer o primeiro gol, ou seja, saindo do G4 e deixando escapar a vaga para a libertadores.
Verdade sobre o povo brasileiro número quatro: por mais que negue, é um povo supersticioso, que acorda com o pé direito, veste a roupa que acha que dá sorte, senta sempre no mesmo lugar no sofá porque senão o time perde, e que não volta a padarias em que existem moleques impertinentes e preditores do fracasso alheio. Napolitana, nunca mais!

6 comentários:

Unknown disse...

Desde o começo do campeonato você sabia que a Libertadores era lucro, sempre falei isso, tanto que aí está o resultado: BOLHA!
Não tiro o mérito do Flamengo, mas realmente o STJFla deu esse presente de Natal pra maior torcida do mundo, que quase nem consegue passar pelo time B do Grêmio em casa! Entretanto, foi merecido porque foi o campeonato da incompetência e, conseqüentemente, o mais fácil da história e que nenhum time realmente mereceu ganhar... Então, na dúvida, deixa a taça pra maioria.
Legal o texto, boa análise e ainda há tempo para mudar de time!
Abraço

Unknown disse...

na verdade, meu gremio deu um presente de natal pros framienguixtaix perdendo pro framiengo... e é claro q a gente nao ia ganhar e deixar o título com os colorados né ehiuhe

:**

Unknown disse...

fala fumaça!
após um longo tempo sem postar, resolvi prestigiar..
o final da crônica é muito bom! ahahhaha
e nesse dia eu chorei!

japinha, vulgo armando, é ridiculo mesmo!hahaha

abraço

Unknown disse...

essas pessoas ai acima so pq perderam o campeonato ficam falando besteira! superem...
adorei a cronica!
saudacoes rubro negras!

Unknown disse...

Boa análise, Pedrão. Poderia ter sido mais melancólica/cômica já que o final da história nao foi tão bom pra vc...mas respeito sua dor..haha
Como bom avaiano penso que o título deveria ter sido do parmera. Explico, o meu humilde time, praticamente novato na série A, terminou na sexta colocação, dos times acima dele na classificação final analiso os resultados dos confrontos diretos.
Frameingo - empate no Maraca e uma goleada na Ressacada, calando Imperador, Pet e cia.
Bambis - empate em casa e derrota no Morumbi.
Cruzeiro - derrota com penalti mto forçado fora e empate em casa.
Parmera - derrota feia em casa e empate bizarro no Palestra.
Intercagão - Foi o único que venceu as duas contra meu Leão, mas é o Inter pffff...nao merece ser campeão de nada.
Então, desses, jogando no lixo o inter, o único a vencer o Avaí em casa foi o Parmera. Acho justo parabenizar esse feito, já que Curíntia, Framengo, Gremio, Flor, Poodles, Coxa, Bambis, Galo e outros ditos grandes nao conseguiram ganhar na Ressacada.
Mas como dito no texto, foi o campeonato dos incompetentes, tanto que o mais competente de todos os times, com o feito mais inacreditável foi o fluminense, que milagrosamente nao foi rebaixado, após uma sequência incompreensível de invencibilidade, que acabou garantindo a permanência na elita somente após o termino da última rodada.
Foi um puta campeonato!!!
Orgulho em ser brasileiro e ter jogado futebol até com caixa de todynho no final do recreio.
Abraço

Unknown disse...

huhauhauahuahaua...
Ótimo texto Pedrito!
Se te conforta, sou coxa e olha o fiasco!!!O maior de todos que o Coritiba andou dando... :(
Nem superstição pra evitar...
hahahahahahaha
Mas Napolitana NUNCA MAIS!!!
2010 promeeete!
bjão

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.