quinta-feira, 22 de abril de 2010

Preguicite aguda

Tenho alguns amigos que me julgam ser a pessoa mais preguiçosa que eles conhecem. Discordo totalmente. Ou quase. É que depende muito da coisa. Devo confessar que talvez a preguiça seja a coisa que mais atrapalha a minha vida, mas tenho sorte de morar com pessoas um pouco menos preguiçosas, senão eu estaria perdido.
Não sei cozinhar, óbvio. Preguiçoso que é preguiçoso, nunca vai se dispor a aprender essa arte, nem em casos de extrema necessidade. Para isso existem os miojos e os congelados, além das padarias de esquina. Mas como sempre há dias atípicos, quando retornei de São Paulo para Florianópolis da última vez, os caras aqui de casa estavam num período do internato médico em que mal tinham tempo para almoçar, que dirá cozinhá-lo. Como eu ainda estava de férias, achei que não custava tentar fazer alguma coisa para eles comerem; eu sabia que o que sempre me impediu de cozinhar foi a preguiça, e não podia ser nada muito complexo. E assim, aprendi a fazer arroz, ovo frito e ferver salsicha (além de lavar e temperar uma boa salada de alface com tomate).
E ficou nisso mesmo. De lá pra cá, preparei mais duas refeições (e lá se foram mais de dois meses), sendo a última, ontem. Juro que até pensei em preparar algo diferente, procurei no Google por “receitas fáceis”, que não me pareceram tão fáceis assim, depois por “receitas rápidas e muito fáceis”, cuja complexidade em muito me surpreendeu, e acabei desistindo quando me passou pela cabeça procurar por “receitas ridiculamente fáceis” ou “receitas culinárias para deficientes físicos”. Resultado: Arroz, ovo, salsicha e salada de alface com tomate (e cebola, desta vez!)

No fundo minha preguiça não foge do trivial, tenho preguiças como as de todo mundo. Como preguiça de arrumar as roupas no armário depois de chegar de viagem, de lavar a louça, preguiça de trocar o canal da televisão se o controle não está por perto, de cortar as unhas do pé (mas eu corto, e regularmente; bom mesmo era o tempo em que minha mãe cortava), entre outras preguiças comuns.
Duas coisas que estão intimamente atreladas são a preguiça e o sono. Claro, quando a pessoa está com sono, tem preguiça de realizar qualquer que seja a atividade. Acontece que ando desenvolvendo uma mania peculiar. Assim como muitas pessoas, durmo assistindo a nove entre dez filmes que alugo. Sempre fico naquela briga para manter os olhos abertos, e quando percebo, já estou abrindo-os novamente. Entretanto de uns tempos pra cá a coisa chegou a tal ponto, que certa vez, quando o sono começou a se avizinhar, consegui me convencer de que o filme ao qual eu estava assistindo não era lá daqueles em que as imagens importavam tanto, eu deveria me ater mesmo aos diálogos, e para isso, os olhos fechados até ajudariam.
Agora, nada ganha de uma prova na segunda-feira. Se existisse alguma espécie de preguiçômetro, eu seria capaz de apostar altas quantias que os maiores graus seriam detectados nas pessoas que têm de estudar no domingo.
Você acorda cedo, bota o despertador para tocar as oito horas, e até levanta disposto, mas ao passar pela sala rumo à cozinha, seduzido pelo cheiro de café e do pão fresquinho que a mãe acabou de trazer da padaria, vê a televisão e se lembra que vai passar a Fórmula 1. Pronto. Pode o Rubinho estar largando dos boxes que você se convence que não pode deixar de assistir a corrida. Antes da metade o carro do Rubinho quebra, mas a luta pelas primeiras posições é tão boa que você fica até ver o pódio. Acabada a corrida, dá uma espiada na cozinha, vê a mãe preparando aquela tradicional macarronada e reflete que não compensa começar a estudar agora, se daqui a pouco o almoço será servido.
Findada a refeição, que você comeu feito um boi, se convence facilmente de que não faz o menor sentido estudar de barriga cheia, não vai dar pra se concentrar, e aproveita para tirar aquela soneca pós-prandial sem remorso algum, no sofá mesmo. E quando percebe, está sendo acordado pelo pai, que liga a tevê para assistir o campeonato de futebol. Assistir futebol nas tardes de domingo pode ser considerado pelo brasileiro algo quase religioso, portanto aquele Ferroviária x XV de Jaú se torna questão de honra, vão te olhar feio se sair da sala com um livro na mão.
O Sol começa a se pôr e agora (só agora) você começa a sentir um leve desespero. Deixou para estudar no último dia e a preguiça o levou ao extremo de começar só de noite. Você então vai para o quarto, se concentra, começa a ler o livro, a coisa flui bem nas dez primeiras páginas. Mas aí você inevitavelmente terá sede ou vontade de ir ao banheiro e, com o livro na mão, passa novamente pela sala, vê que no Fantástico está passando uma reportagem interessantíssima e não resiste. Quando menos espera, está segurando de um lado o livro e do outro o controle remoto, zapeando os canais, até a hora em que começa aqueles filmes de fim de noite dominical, geralmente com o Steven Seagal ou o Charles Bronson, que conseguem fazer com que a matéria que você deixou de estudar o dia todo pareça legal.
Mesmo assim você não consegue, e agora é tarde demais. Chega a conclusão de que é melhor, mesmo não tendo estudado nada, dormir de uma vez e chegar inteiro amanhã para a prova, pois com a mente descansada você conseguirá lembrar melhor do conteúdo das aulas, que você, com alguma sorte, não matou. Por preguiça, claro.

12 comentários:

Arthur disse...

Olha.. A preguiça é algo para um estudo sério! Temos que resolver este mal dos homens! O problema é a falta de vontade para tal! hehe

Grande Pedrão! abraço

Unknown disse...

aeuihaeuihaeuihaeu
mto bom pedrao!!!
só esqueceu aquela dormidinha de mais cinco minutos antes da prova!!
e o famoso to na sua na prova!!
eaiuhaeiuhaeuihae
abraço

demian disse...

nao sabia dos seus dotes culinarios pedrao. Arroz para mim ainda é um misterio ! abraço!

Guilherme disse...

Como disse Mario Quintan: "A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda."
O único problema é um desgraçado que estava no ócio um dia inventou a televisão! rs.. Junto vieram a F1, futebol na tv, reportagens interessantes... Aí se foi o boi com as cordas.

Abraço Pedrão

Unknown disse...

que texto inspirador pra antes da prova de saude do adulto!! hahaha
adoreiii

Unknown disse...

(preguiça de fazer um comentario)

Abraço Pedrao!

Manoela disse...

concordo com a Camila... Agora que eu tava criando coragem pra voltar da minha pausa... Hahahah

Unknown disse...

caramba em pedrão, tá tendo que ver cada jogo só pq o verdão tá mal !!!
excelente o texto...
abraços !!!

Arthur Pompilio Astrogildo da Silva disse...

Vc ja pensou em ganhar dinheiro com sua preguiça? Pergunte-me como?

José Bear
Agente publicitario
Preguiça Lifestyle
Contato: 555-6969

Unknown disse...

Eu tava com preguiça pra ler o texto pq preciso ver meus emails, mas daí me pareceu mto mais interessante ficar por aqui..depois da descontraçao por aqui tava indo pros emails de novo, mas é um saco ter que ficar respondendo os compromissos, que preguiça, ainda mais depois de uma aula de hepatites intermináááááável...tá, sem perder o foco...a preguiça de ir pra lá me fez ler os comentários, e só não fiquei com preguiça de comentar pelo comentário aí de cima...
Quem nao gostaria?!

Hauhahuahua
Bom texto, Pedrão!!!
Parabéns!

Unknown disse...

...evitando a fadiga...
hauhauahuahauhauahaa...ótimo, Pedrão!!!!!

Anônimo disse...

Adorei essa sua preguicite aguda!
Muito legal! Dei muitas risadas!!!!

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.