Caímos de novo. Nós palmeirenses, por mais que nos
disséssemos desiludidos há várias rodadas, sabemos bem que o fio da esperança
não se arrebentaria até o último minuto do último jogo, se até lá
sobrevivêssemos. A sensação é horrível,
é revoltante, e o pior de tudo é que não foi nada inesperado. Todos sabem de
quem é a culpa disso tudo e não vou me ater à velha lenga-lenga. O assunto
sobre o qual eu quero tratar é outro: é o que eu entendo ser o papel de
torcedor.
O fato
de eu torcer para o Palmeiras independe se ele ganha ou perde, se a diretoria é
um lixo ou se é considerado por quem quer que seja time grande ou pequeno.
Abandonar o time, como o Clóvis Rossi, colunista da Folha que escreveu de forma
bastante infeliz hoje no caderno de esportes jamais passaria pela minha cabeça.
Para mim time é como família, a gente apoia até as últimas e mesmo depois
delas.
Um
cidadão abandonar o time devido sua má gestão é o mesmo que, por exemplo, outro
abandonar a fé católica devido a padres pedófilos. A paixão pelo clube é um
sentimento avançado demais para ser corrompido por atitudes de sujeitos mal-intencionados
ou displicentes. O time é um organismo, que como um todo, depende de fatores
internos e externos; sua saúde é um processo bio-psico-social no qual a torcida
desempenha um papel absurdamente relevante, e sem a qual, no fim último das
coisas, não teria nem para quê o time existir.
Por
isso, hoje, no dia pós-rebaixamento, saí de casa com a camisa verde. Não vai
ser a (re)caída que mudará alguma coisa no que tange meu apoio ao time. A mim, não tem cabimento aqueles que só
ostentam o fardo quando o time ganha. Torcer pelo Palmeiras (para mim) vai
muito além de quem o administra, ou até mesmo quem veste sua camisa dentro das
quatro linhas, apesar disso tudo colaborar.
São
memórias, lembranças de torcer (independente de vitórias ou derrotas) junto a
meu pai, meus tios, amigos, em frente a TV, no estádio, no bar. O
compartilhamento de uma expectativa e sentimento comuns, simples, humanos, que
para mim, veio através do Palmeiras. Não sou um aficionado por futebol; sei o
comum, a tabela do brasileirão e dos principais campeonatos europeus, as
contratações mais importantes, estilo de jogo dos jogadores que mais aparecem
nas equipes etc. Mas torcer é muito distinto disso.
Já
conheci sujeito (brasileiro) que torce pela Argentina. Ando vendo aí gente da
nova geração (e até da velha) dizendo que torce pelo Barcelona. A questão de
ver uma equipe jogando bem, e por isso querer que ela dê show, faça gols e
ganhe partidas não significa torcer. Ser Palmeirense não é uma escolha. É a
mesma coisa que chegar e dizer, a partir de agora não quero mais ter sangue B+.
Não existe essa possibilidade.
Claro
que quero ver o Palmeiras brigando de igual pra igual com os principais times
do país, ganhando títulos, jogando bonito. Por enquanto o negócio tá brabo,
torço para que as eleições de janeiro comecem a dar novos rumos pro verdão. Mas
não me importa o que façam os outros, muito mais responsáveis do que eu pelo
futuro do time. Até porque, sábios estoicos, existem coisas que dependem da
gente, e outras que não dependem. E é por isso que minha parte continua sendo
puro imperativo categórico de Kant. Vou continuar torcendo igual, simplesmente
porque é assim que tem de ser.
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