Já deixou de ser interessante (porque previsível,
desproporcional e injusta) a forma como a maioria de nós reage diante das
derrotas. Principalmente quando não somos os protagonistas, mas nos sentimos
representados.
Anderson
Silva se tornou a pessoa mais eficiente e vitoriosa numa modalidade esportiva,
que ganhou evidência estratosférica nos últimos tempos. Moda? Não vejo problema
nisso. Hoje é MMA, facebook, sertanejo universitário. Ontem foi Walk-Talk,
fórmula 1 e lambada.
Nosso
lutador ontem utilizou a mesma tática das outras lutas, (em alguma medida,
certamente exagerou), e perdeu. Espanha e Barcelona recentemente também. Eike
Batista, idem. Seus movimentos e momentos sistólicos e diastólicos tem gêneses
diversas, então vamos ficar apenas com o evento desta madrugada.
Pra
simplificar (sempre mais fácil), vejo muitas pessoas atribuindo à derrota um
único motivo: a falta de humildade de Anderson. Mas poucos conseguem mensurar o
que é ser o melhor que existe numa determinada função, e através dela, “representar”
uma nação e, diga-se de passagem, o Brasil.
O
melhor sentimento que existe é você ser querido, amado, respeitado, admirado, e
quando ações suas te projetam de forma a que outras pessoas te deem esse
feedback, seu instinto é reproduzi-las sempre, criando para si próprio um
personagem. Vimos inúmeras vezes Anderson Silva baixando a guarda, se esquivando
de seus adversários e posteriormente ganhando as lutas. Mas quando provoca,
quando manda beijo e muitas vezes quando baixa a guarda, ele não está se
dirigindo (somente) a seu adversário. Ele está se dirigindo a nós, que esperamos
dele o que sempre conseguimos.
Anderson
Silva sucumbiu a uma característica intrínseca do ser humano: perdeu o foco na
ânsia de não perder a imagem que detinha até então. Não serei eu a banalizar com justificativas uni causais; há o mérito do adversário, (o maior contribuinte
para o resultado), não temos como saber as reais condições psicológicas do Anderson,
entre outros fatores que nunca saberemos. Mas argumentar falta de humildade, de
uma pessoa que até então foi motivo de reflexões contrárias a isso? Bom, cada
um tem direito a pensar e se expressar da forma que quiser. Sociedade com poder de expressão horizontalizado é uma conquista nossa.
Somos
seres extremamente carentes, que tentamos a todo custo chamar atenção colocando
imagens ou frases bacanas para serem curtidas nas redes sociais. Achamos que o
que pensamos sobre qualquer coisa ou o que estamos fazendo, fizemos ou faremos
é interessante e digno de ser compartilhado com o universo. Exageramos (como
fez Anderson) e fracassamos várias vezes por dia, mas não estamos na televisão
(porque não conseguimos). Nesta madrugada assistimos ao que queríamos, e como
algo saiu fora do previsto (a vida é mais dependente de “momentos de sorte” do
que gostamos de acreditar), malhamos o protagonista, (que até o dia anterior
era “o cara”) ao invés de dar-lhe estímulo para que se recupere e continue.
Mas é
isso aí, Anderson Silva continuará sendo um gigante, com, sem, ou apesar de
nós.
2 comentários:
"Mas argumentar falta de humildade, de uma pessoa que até então foi motivo de reflexões contrárias a isso?" Com certeza vc não viu a luta do Anderson com Damien Maia (outro Brasileiro). Ele venceu daquela vez, mas foi muito desrespeitoso com adversário a sua frente, na época foi duramente criticado, até pelo Dana White. Só não foi demitido do UFC porque rende muito dinheiro para organização, mas se fosse outro lutado com certeza teria sido mandado embora. Venceu, mas nem por isso foi considerado bonito que ele fez, extremamente sem humildade. Além disso, quando vc é bom ou melhor(no caso Anderson), vc é espelho para muita gente, isso traz responsabilidades, ser um bom exemplo, coisa que ele não foi. Como praticante de artes marciais e graduado sei que não são esses os valores passado pelas artes marciais.
Massa o comentário! Obrigado. Concordo com você. Apesar de eu não ser praticante de artes marciais, não tenho dúvida de que os valores passados são muito bons, bem como em qualquer filosofia, ou mesmo nas religiões, cujos ensinamentos são muito mais acançados e profundos do que hoje somos capazes de conceber. São, entre outros, meios de auto-conhecimento e desenvolvimento de seus potenciais latentes. Infelizmente, na nossa condição humana, não somos infalíveis. Grande abraço
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