Vivemos um momento muito peculiar.
Não há
a menor coerência entre aquilo que se pensa, aquilo que se diz, e aquilo que se
faz. As pessoas pensam X, e acordam para viver Y. E de uns tempos pra cá,
“ganharam” a chance de dizer W.
Todos
querem um mundo melhor, mas ninguém age de acordo. É impossível um mundo melhor
com os sonhos e objetivos traçados pela grande maioria. De idealistas o mundo
está cheio, falta compromisso.
Ninguém
mais vive de forma autêntica. Todos (ou quase todos) vivem para alcançar alguma
coisa que parece interessante aos olhos de alguém. Todos querem ser
reconhecidos, todos querem ser amados.
O mundo
está abarrotado, como diz Milton Nascimento, de pessoas que “não vivem, apenas
aguentam”, ou nas palavras de Mick Hucknall “for the poor, no time to be
thinking, they are too busy finding ways.” Pois bem, aos que cabe fazer alguma
coisa, nada fazem. Particularmente,
me soa muito triste, talvez até maldade, pessoas que tiveram uma boa “educação”,
ou ao menos uma posição privilegiada no que tange a compreensão do mundo, terem
objetivos tão individualistas. Minha geração definitivamente não vai resolver
nada. Estamos cavando (com gosto) a jazida de qualquer vestígio de processo
civilizatório, de humanidade.
As
metas de vida traçadas tem por direção 180 graus contrárias àquilo que é
necessário para um mundo melhor. Defendem uma saúde melhor para todos, mas as
atitudes e escolhas visam apenas os que podem pagar caro. Defendem o combate a
violência, mas são extremamente excludentes e preconceituosos (aberta ou
veladamente, até mesmo com piadinhas “inocentes”) contra negros, homossexuais,
e outras “minorias”. Defendem uma melhor educação, mas na parte que lhes cabe,
dentro de casa, perpetuam o pensamento do que é MEU, do poder, do “quanto mais
excludente o meu saber, minha compra, meus bens, mais destaque terei”.
Ora, em
nossa sociedade democrática, tudo isso e possível. E aí estamos, no mundo
totalmente desarticulado, onde a maior confusão é entre meios e fins. Uma casa
é um meio para ter algum descanso e conforto, um carro é um meio de transporte,
internet é meio de comunicação.
“Preciso
ganhar sei lá quantos mil reais pra ter uma boa casa, pra ter um bom carro, pra
ter um computador, e na internet postar fotos da minha casona, e do meu carrão,
e da minha grande viagem, e da minha namorada peituda, que está comigo porque
eu tenho uma casona, um carrão, e porque faço grandes viagens...”
Uma
foto do cassino, uma da peituda, e o próximo post é “Dilma incompetente”, ou
qualquer outro palpite dispensável. Não por estar certo ou errado, mas
simplesmente pela incoerência. Atreve-se o sujeito a opinar sobre hepatologia?
Sobre termodinâmica? Botânica, ou escalas melódicas e pentatônicas? Política é
um ramo do saber como outro qualquer. Se elegemos qualquer um apenas porque
fala bem ou parece bem intencionado, isso é uma falha do nosso sistema,
(educacional, inclusive e sobretudo) e bem grave.
Pois
bem, de maneira mais intimista: trata-se no fundo, uma rota de fuga, essa tal
de internet, né?! Pois pensamos uma coisa (X), vivemos outra (Y), que não tem
nada a ver. Mas podemos fingir. E podemos chamar essa farsa de W.
Como
ecoa esse W...
3 comentários:
Você escreve maravilhosamente bem!
Suas palavras são um aconchego para mim! e um sonho... pois sonhar faz bem a mente
Partilho da mesma opinião! Gostaria de explodir Brasília. Mais se a sociedade não se juntar nada vai acontecer. Adoro conversar com qualquer pessoa, não tenho preconceitos. Elas sabem que a educação é uma droga, a saúde....
Mais nada fazem para mudar. Falta de coragem, medo de perder seu carrão, sua casona, seu emprego...? Acho que infelizmente não terei tempo para ver um mundo melhor, mais justo por isso me pergunto que democracia é essa?
Não posso esquecer quando o Lula subiu no palanque em São Paulo e falou se eu precisar vou me tratar no SUS no entanto quando ficou doente foi tratado no melhor hospital de São Paulo. O mundo de hoje é assim. Somos bem avaliados se temos dinheiro, se somos jovem, bonita ...e por aí vai!
Não sou um robô
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