domingo, 13 de abril de 2014

Poderosas armas humanas

Um grande ser humano certa vez disse: “há pessoas que sentem a chuva, outras apenas se molham”. Puxa, dá pra aprender tanta coisa nessa vida! “Seiscentos anos de estudo, ou seis segundos de atenção?”

Lá em Sombrio eu atendia uma média de 25 a 30 pessoas por dia. E a coisa que eu mais tinha de escrever era a data nos receituários. Isso me fazia ver o tempo passando. E passava rápido, porque o trabalho era bom. Nada (ou quase nada) era automático e cada consulta uma oportunidade nova de aprender e ensinar.

 Conheci o verdadeiro poder da vontade, poder esse que pode passar desapercebido por toda uma vida, sem nem desconfiar que temos. Pacientes que chegaram a mim fumando 60 cigarros por dia e, mesmo em meio a conturbados contextos familiares, conseguiram parar de fumar. Os que emagreceram da forma correta, as que tiveram coragem de largar o emprego, as que se deram chance a novos relacionamentos após os 50 ou 60 anos. Os que entenderam que as coisas são como são, e não como a gente quer. Mas mesmo assim, há coisas que dependem da gente, e outras não.

Por trás disso tudo, eu entendi que de tudo o que eu fazia, aquilo que mais ajudava, o que mais fazia sentido e diferença, não dependia de eu ser ou não ser médico. As pessoas podem ajudar a mudar a vida umas das outras a qualquer momento.         

 
O fato de você desejar bom dia, apertar com vontade a mão de quem lhe responde, sorrir e olhar diretamente nos olhos pode causar um impacto extremamente positivo. Mostrar interesse e atenção é fundamental, mas até aí nenhuma grande novidade. Conheci duas grandes armas que mudam o dia, e talvez a vida das pessoas com quem a gente convive, e como expus, não precisa ser médico para usar.

Trata-se da capacidade de elogiar e de confiar. Experimente. Veja, quando, seja de forma particular ou pública, você elogia alguém. Ressalta suas virtudes, diz-lhe o quão importante ela é para os outros, para si, e para ti. Mostre pra ela quantas pequenas boas coisas ela faz durante o dia, e durante a vida, mas que passam desapercebidas pois o foco está sempre voltado para qualquer outra coisa.

Pegue todas essas virtudes, e deposite sua confiança nelas. Olhe fundo nos olhos e diga “Você é um pessoa muito boa, gosto de você e confio em você. Vai fundo que eu tenho certeza que você consegue.” Ou ainda “Vamos conseguir juntos”.

Não tenha medo de se aproximar das pessoas, é possível ser afetuoso de forma muito respeitosa em qualquer relação. A medicina nada mais é do que uma relação interpessoal dentro de um contexto. Não é possível realmente fazer a diferença na vida de alguém sem envolver-se com ela.

 
Se, no fundo, você imagina que alguma pessoa não tem absolutamente nenhuma virtude (o que só pode ser uma ilusão, e nos iludimos com frequência) tente pensar não no que a pessoa é, mas sim no que ela pode vir a ser. Gosto de pensar assim com relação ao mundo: Não aprecio muito o jeito em que ele se encontra, mas gosto muito do jeito que eu imagino que ele possa vir a ser. E por isso faço questão de trata-lo bem, e tentar melhorá-lo a cada dia, tendo em mente que melhorá-lo é melhorar a mim e ajudar os outros a fazer o mesmo.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que você escreve é um sonho!Lindo

Anônimo disse...

Gostaria de saber se você é do planeta Terra? Pois ele é tão hostil!

Anônimo disse...

O mundo é cruel!

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.